terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dublagem

Sempre digo para todo mundo que não tenho amor platônico, pois bem, menti. Tenho um, e é dos grandes.

Quem nunca ouviu?!? – Versão brasileira Herbert Richard! – Então, é isso.

Claro que não! Eu não sou apaixonada pelo Herbert Richard, nunca o vi mais gordo, nem mais magro ou mais careca, eu nem o conheço, estou me referindo a dublagem.

Quem vê, pensa que eu tenho o maior vozeirão, né? Errou de novo, melhor parar de tentar responder, por que você manda muito mal nisso. Eu disse que amo a dublagem e não que tinha aptidões para dublar.

Contrariando a muitos e agradando a poucos, começo esse post defendendo e amando a dublagem brasileira  hiper, mega, blaster censurada, sim!

Pode negar o quanto quiser, mas por mais que você deteste a dublagem hoje, houve uma época em sua vida em que ela foi muito importante, essencial. Na infância. A menos, é claro, que você tenha nascido poliglota. E se nasceu poliglota, eu nem vou discutir com você, vou te admirar loucamente, pode reclamar da dublagem que eu deixo.

Mas, como nem todo mundo nasceu super provido de habilidades, ainda existem analfabetos no Brasil. Pois é, analfabetos, semi-analfabetos, analfabetos funcionais, enfim, existe uma galera que ainda não sabe ler, ou não sabe  de forma fluente, digamos assim, e à essas pessoas, a legenda esta definitivamente fora de cogitação. Ou seja, obrigada por existir, dublagem!

Agora voltemos ao assunto mais polêmico: Censura! Tem gente que reclama da censura, diz que afeta o livre arbítrio, que muda totalmente o sentido dos filmes. Que assim seja, porque eu adoro a censura. Um salve para a censura!!Tenho um sobrinho de dois anos que assiste desenho animado, e se o personagem do desenho fala idiota, dois segundos depois meu sobrinho começa a repetir a palavra idiota. Sem censura talvez meu sobrinho aprendesse, aos dois anos, coisas muito piores.

Outra coisa, audio é importante, né gente? Ninguém nunca ouviu falar em deficiente visual, não?

Ok. Não sou surda, tão pouco quero ser indiferente ao fato de que a dublagem brasileira tem muito que melhorar, mas acredite quando eu falo que nossa dublagem é boa, galera! Faça o teste você mesmo, escolha um DVD qualquer e vá mudando o áudio e ouvindo as dublagens de outros países, você perceberá que, se somos ruins, tem gente pior!

Ah! Quer saber? Não gosta de dublagem, então aprenda inglês e compre uma TV com tecla SAP, ué!

Bom, agora chega de defesa porque eu quero falar algumas coisas bacanas, primeiro quero começar com algumas dicas.

Se você está lendo esse post, acredito que tenha algum interesse pelo assunto, e se mais profundamente, você quer ser dublador, então precisa saber que dublador não existe, existe o ator de voz ou ator de dublagem, ou seja, surpresa: Para dublar é obrigatório que se tenha o DRT, isso é, se você já for um adulto, a partir de 18 anos. Dublagem também é interpretação, o que significa que também é uma arte.

E aí você se pergunta, o que é esse tal de DRT e como posso consegui-lo?

DRT é o registro de ator, e eu conheço três formas de consegui-lo, e todas elas exigem esforço:

1. Fazer curso profissional de teatro.

2. Passar pela banca avaliadora.

3. Ter trabalhos na TV e teatro e ter como comprová-los através de vídeos, panfletos, anúncios, fotos e afins.

Só o curso de dublagem, para quem não tem DRT, praticamente não serve para nada, claro que te capacita, mas não habilita, então seria o mesmo que uma pessoa que sabe dirigir, mas não possui habilitação, entende? Não pode dublar.

No site do sindicato dos atores, dubladores e tudo o mais, há vários endereços de escolas de teatro e dublagem, para que mora em São Paulo, segue o link: www.satedsp.org.br.

Não quero te desanimar, mas eu dei uma pesquisada e o valor dos cursos são os olhos, o nariz, e a boca da cara.

Ano passado, estive em um workshop de dublagem na Universidade de dublagem, o que foi basicamente uma conversa com o Ulisses Bezerra, levanta mão quem conhece o cara! Então, o Ulisses dublava a voz do meu cavaleiro do zodíaco preferido, o Shun, ele é irmão do Wendel Bezerra e cunhado da Angélica Santos, esses nomes te soam conhecidos? É porque são mesmo. O Wendel é dublador do Bob esponja, do Goku e (suspirem garotas) do Edward Culen. Já a Angelica é a dubladora do Cebolinha. Ambos, Ulisses e Wendel são irmão da Ursula Bezerra, dubladora do meu queridíssimo Naruto. Mas que familinha de voz invejável, não?

Com relação ao workshop, “não vou dizer que foi ruim, também não foi tão bom assim”. O e-mail que recebi sobre o evento dizia que quem ministraria o curso seria o casal talentoso Wendel e Angelica, chegando lá, ao me deparar apenas com o Ulisses, eu gostei também, mas não foi assim uma Brastemp.

Quer saber se eu dublei? Claro que sim, por 5 segundos contados no relógio. Nem comento, mas o bom é que deu para esclarecer várias dúvidas que nós, aspirantes á dublagem, possuímos a rodo.

Eu sempre me perguntei, será que um dublador consegue viver só de dublagem? Agora eu sei a resposta. Se for bom, pode. Mas nunca vi um dublador rico, e você, já? Vou confessar uma coisa, acho dublagem tão legal que, sinceramente, nem ligaria de fazer algumas dublagens gratuitas por aí. Mas já que é uma profissão paga, né? Melhor ainda.

Ainda me referindo a money, fiquei sabendo que algumas vezes, aquela galera que faz o vozeiril, que seriam, a grosso modo, os figurantes, ganham mais que dubladores com personagens fixos, porque, por vezes, podem ser chamados para dublar uma frase de um período (esses períodos tem um nome que agora esqueci) e ganham o período inteiro, ou seja, na prática, trabalham menos e ganham o mesmo, mas isso não é regra, apenas acontece.

Creio eu que, ainda que se trabalhe mais, seja melhor ter personagem fixo, mesmo porque, a cada dia a dublagem se torna mais admirada, principalmente no que tange desenhos animados e animes, e é bacana realizar um trabalho com reconhecimento, né? Eu por exemplo, tento identificar e reconhecer meus dubladores favoritos dos desenhos, programas, filmes, seriados e afins. Acho que se eu encontrar por aí o Nelson Machado (dublador do Kiko), a Cecília (dubladora da Chiquinha), o Hermes, o Fábio Lucindo e tantos outros, eu super pago de tiete e vou bater um papinho com eles.

Não vamos esquecer, obviamente, dos atores consagrados que se metem a dublar, acho bacanérrima a dublagem do Selton Melo, ele manda muito bem. A Mariana Ximenes quando dublou sorrido metálico também fez um trabalho super meigo, e tem também a animação "A era do Gelo", que foi praticamente toda feita por atores de TV. Sei que há alguns que não mandaram tão bem assim na dublagem, aquele desenho "Nem que a vaca tussa", ao meu olhar leigo, não me pareceu tão bem dublado, também não curti muito a voz do Luciano Huck interpretando o príncipe de "Enrolados". Essa é uma estratégia americana, porque fatalmente faz o desenho chamar mais atenção e desperta a curiosidade do público. Tem gente que critica, mas por mim, fazendo bem, que mal tem?

Agora se tem uma coisa que não me agrada muito é a mudança do dublador de um personagem. Quem assistiu o ultimo filme o Harry Potter, por exemplo, há de concordar comigo que foi super estranho ouvir a voz alterada da Macgonagal, não que tenha sido mal dublada, foi estranho simplesmente porque não era a voz que nos habituamos a ouvir. Há casos em que alteração é inevitável, como quando um dublador está doente ou falece, mas em qualquer outro caso é meio inaceitável para mim.

Outra coisa que está em pé de igualdade com a alteração de dubladores, são as redublagens. Se a primeira dublagem foi boa, porque redublar? Por que o áudio ficou velho? Deixa ficar, isso porque o próprio filme ficou obsoleto também, então combina. Nada mais justo que filme velho com dublagem velha, não?

Há outra coisa sobre a qual não quero esquecer de falar, atores de voz não recebem por reprises. Deveriam receber vocês não acham? Afinal, alguém está ganhando dinheiro sobre a voz dos dubladores de novo, não é? Pois deveriam pagar-lhes o trabalho de novo também, assim como um ator ganha quando reprisam as novelas e afins. Ixi, mas essa, é uma briga que há anos não é vencida e tão pouco acredito que o será agora.

Esqueci de algo? Ah, sim. Contratação, testes, região. Bom, vocês devem ter reparado que a dublagem só tem dois sotaques: O carioca e o Paulista. Ou seja, quer dublar? Então venha morar em um desses dois lugares. Segundo me consta, os contratos estão caindo em desuso, o que significa trabalho autônomo, na certa. E os testes podem ser por gravação ou diretamente com o diretor de dublagem. Infelizmente pelo que percebi, rola muito QI(quem indica). O mercado de trabalho para dubladores é bem pequeno e fechado, prova disso é que não é raro ouvirmos repetidas vezes as mesmas vozes dublando diversos filmes. Ano passado, estimava-se que houvesse cerca de 300 dubladores efetivamente trabalhando em todo o Brasil, esse ano, espero eu, o número deva ter aumentado, mesmo porque, dublagem virou modinha. E bem dizer, 300 é um número muito pequeno mesmo.

Dizem que há mais trabalho em São Paulo, mas que há mais qualidade na dublagem carioca, eu, como sou paulista e não gosto de pensar que paulista é avarento, prefiro acreditar que essa rixa é regional e não profissional, mas isso, só confirmarei na prática.

Por fim, vou contar meu “causo”, conheci a dublagem quando tinha uns 10 anos e estava assistindo X Tudo na TV cultura, foi em um programa que falava sobre a saúde da voz e quem fazia a entrevista era a Fernanda Souza. Nesse dia, a Fernanda entrou no estúdio de dublagem e dublou aquele desenho do elefantinho rei, Babar. Desde então foi paixão platônica a primeira vista. Platônica porque a vontade de dublar cresceu, mas a oportunidade não apareceu, mesmo assim, amo, amo, amo.

Espero que tanto para os aspirantes a dublagem, quanto aos curiosos de plantão, esse post tenha sido esclarecedor, porque contei quase tudo que eu descobri por aí.

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