O Bru diz que nunca brigamos. Mas para mim, toda vez que eu
perco a vontade de falar, é briga! Uma briga silenciosa e educada, mas
não deixa de ser briga.
Tudo bem que, graças a Deus, nunca gritamos um com outro,
nunca nos ofendemos, ou jogamos coisas na cara um do outro, acho até que toda
vez que brigamos, olhamos para dentro de nós mesmos e procuramos melhorar, mas
falamos o que está nos incomodando ou o que estamos pensando e isso para mim é
briga.
A verdade é que o Bru e eu somos muito diferentes, mas antes
era mais difícil perceber , lembro que quando descrevi o Bruno pela primeira
vez parecia que eu estava descrevendo meu gêmeo siamês separado por cirurgia,
ou algo assim. Lembro de escrever para uma amiga e dizer coisas como: Ele é de
Deus, gosta de crianças, faz teatro, já fez missão na Angola... e lá se foi uma
lista imensa de coisas nas quais nos parecíamos. Hoje, 11 meses depois, posso
fazer outra lista igualmente imensa sobre as coisas nas quais não nos
parecemos: Eu sou nervosinha, ele quase nunca perde a calma, eu sou gastona
(até demais), ele pode viver muito tranquilamente com pouquíssimo dinheiro, eu
adoro dar presente e comemorar datas, ele acha desnecessário, mas faz porque
sabe que é importante para mim, eu como por compulsão, por vontade, por que
quero, ele come só quando sente fome e ás vezes nem isso, enfim.
Mas numa coisa somos parecidos, somos sempre cheios de
opiniões, na maioria das vezes opostas, é claro. Para ser sincera, eu
gosto. Deve ser chato namorar alguém que sempre concorda com tudo.
Tipo:
Ela: - Eu gosto de cogumelos gigantes da Malária.
Ele: - Verdade, eu também.
E então a conversa chegaria ao fim. Mas com o Bru e eu a
conversa seria mais ou menos assim:
Eu: - Bru, gosto de cogumelos gigantes da Malária.
Ele: - Por que?
Eu: - Sei lá, porque são gigantes.
Ele: - Mas você só gosta porque são gigantes? Talvez você
não goste dos cogumelos, só goste de coisas gigantes.
Eu: - Gosto dos cogumelos sim.
Ele: - E se fossem alfaces gigantes?
Eu: - Da Malária?
Ele: - É.
Eu: Acho que eu gostaria também.
Ele: - Porque você gosta de coisas gigantes da Malária?
Eu: - Sei lá, porque você não gosta?
Ele: - Não gosto porque não faz sentido gostar de cogumelos
gigantes da Malária, preferia um bife gigante do Brasil.
Eu: - Mas para gostar das coisas não precisa ter sentido, eu gosto
de você e não tem sentido nenhum.
Ele: - Tem sim, eu sou lindo.
Eu: - E tonto.
Ele - Um tonto lindo.
Eu: - E chato.
Ele: - Um lindo tonto chato.
Eu: - É sim. - Silêncio - Poderíamos ir para Itu.
Ele: - Porque você adora viajar.
Eu: - Porque deve ter bife gigante do Brasil em Itu.
Ele: - Então poderíamos ir para Itu.
Daríamos risada e assim a conversa jamais chegaria ao fim,
aliás tenho a impressão de que nossas conversas nunca chegam mesmo ao fim, nós
é que interrompemos para fazer outras coisas.
Antigamente eu costumava assistir um programa na TV a cabo
que se chamava “o que me irrita em você”, em resumo os casais filmavam o que irritava no outro. Às vezes eu fico pensando o que eu colocaria
num vídeo desses sobre o Bru, ou pior, o que ele colocaria num vídeo sobre mim.
Mas tenho impressão de que nossos vídeos seriam engraçados, pois apesar das muitas
diferenças, o que me irrita no Bru é ao mesmo tempo o que eu também amo e
respeito, faz parte de quem ele é.
Tenho descoberto que decidir coisas juntos e fazer planos, mesmo os mais simples, como o que fazer no final de semana, não é tão fácil quando a decisão é à dois, é meio irritante, mas também descobri que apesar disso, vale a pena.
O que me irrita em você? Que eu te ame tanto apesar de me irritar. (rs)